9 Mulheres na História da China que Todos Deveriam Conhecer

9 Mulheres na História da China que Todos Deveriam Conhecer

A história da China é marcada por mulheres que estão por trás de conquistas incrivelmente significativas. Algumas mudaram o curso da nação, outras foram pioneiras e influentes em níveis mundiais. Listamos aqui 9 mulheres na história da China que todos deveriam conhecer, incríveis o suficiente para inspirar contos populares, mitos, lendas, e até filmes.

Colocamos a lista em ordem temporal, da mais antiga para a mais recente. Cabe notar que muitas outras mulheres igualmente incríveis não constam aqui, mas suas histórias também são dignas de reconhecimento.

1. Su Hui 苏蕙

Mulheres na China - Su Hui

Su Hui foi uma poetisa chinesa do período dos Dezesseis Reinos 十六国 (de 304 a 439). Suas principais contribuições foram no estilo de poesia em palíndromos 回文, em que se tornou a maior referência até hoje, mesmo tendo vivido a tanto tempo.

Su Hui ficou especialmente famosa por um importante e pouco comum poema palíndromo chamado Xuanji Tu 璇玑图 (“Imagem da Esféra Giratória”, em tradução livre). Esse poema não só é considerado o maior exemplar do gênero, como também uma das maiores obras de arte que se tem conhecimento. O poema consiste de 841 caracteres que podem ser lidos em diferentes sequências, como dentro de quadrados, da esquerda para a direita e vice-versa, de cima para baixo e vice-versa, nas diagonais, e assim por diante. Cada sequência de leitura dá origem a um poema diferente. Estudiosos analisaram esse poema por mais de mil anos, e já descobriram 7940 formas de ser lido!

Xuanji Tu 璇玑图: versão original (esquerda) e versão em chinês simplificado (direita)

A obra ficou tão famosa e causou um impacto tão grande que passou a circular na China antiga. Em todos os lugares, estudiosos e leigos analisavam o poema e tentavam descobrir novas leituras dentro dele. Essa popularidade se estendeu por várias dinastias, e permitiu que essa relíquia fosse conservada até os dias de hoje.

2. Hua Mulan 花木兰

Mulheres na China - Hua Mulan

Essa lendária guerreira chinesa (embora seja um assunto de debate sobre precisão histórica) do período das Dinastias do Norte e do Sul 南北朝 (de 420 a 589) é imortalizada em estátuas tanto na China como em Cingapura. E quem foi exatamente essa destemida mulher?

As riquezas da literatura chinesa do século V contêm relatos reverentes de uma mulher corajosa chamada Hua Mulan, que pegou a armadura e a espada de seu pai e entrou em combate em seu lugar. Ela temia que seu pai morresse devido à idade e capacidade limitada de luta diante de um conflito inevitável. Hua Mulan escondeu sua identidade como mulher, liderando homens para a batalha e sobrevivendo até o fim. Sua identidade foi somente revelada após a vitória. Ao ser oferecida uma recompensa pelo Imperador, a misteriosa guerreira simplesmente pediu para ir para casa.

Embora sua existência seja incerta, seu lugar na cultura chinesa é forte como uma imagem mantida na consciência de muitos até hoje. A propósito, se tudo isso soa familiar para você, a resposta é sim: essa foi a base para os filmes da Disney (desenho e live-action). Hua Mulan é uma das mulheres na história da China mais conhecidas no Ocidente.

3. Wu Zetian 武则天

Mulheres na China - Wu Zetian

A Imperatriz Wu Zetian, que viveu durante a Dinastia Tang 唐朝 (de 618 a 907), foi a primeira mulher a governar a China. Também foi a segunda mulher no mundo a governar uma nação, ficando atrás somente de Cleópatra.

Ela foi uma figura muito controversa, porque inicialmente foi a concubina do Imperador Taizong de Tang 唐太宗. Quando o imperador morreu, ela se casou com o filho de Taizong, o Imperador Gaozong de Tang 唐高宗. Nesse momento, Wu Zetian passou a governar a China através de Gaozong.

Quando Gaozong morreu, ela se colocou no trono como imperatriz viúva e governou a China até um ano antes de sua morte, quando tinha 81 anos.

4. Lin Siniang 林四娘

Mulheres na China - Lin Siniang

Lin Siniang nasceu no final da Dinastia Ming 明朝 (de 1368 a 1644) em uma família de militares. Durante a infância, estudou artes marciais. Quando seu pai morreu, foi forçada a se prostituir na região do rio Qinhuai 秦淮河. Nesse momento, seria difícil imaginar que ela se tornaria uma das mulheres na história da China mais lembradas até hoje.

O rei feudal Zhu Changshu 朱常庶 , ao vê-la praticando artes marciais à margem do rio, apaixonou-se por ela, e mais tarde eles se casaram. Ela era tão habilidosa que o rei pediu que ela ensinasse todas as concubinas reais suas técnicas de combate.

Isso evoluiu de tal forma, que foi estabelecido um exército essencialmente feminino, liderado por Lin Siniang. Esse feito fez com que Lin Siniang rompesse as barreiras do preconceito na época, já que durante a Dinastia Ming as mulheres não ocupavam posições importantes na sociedade.

5. Wang Zhenyi 王贞仪

Mulheres na China - Wang Zhenyi

Uma extraordinária astrônoma chinesa, Wang Zhenyi, resistiu aos papéis tradicionais de gênero ao se tornar altamente instruída e independente na China antiga. Uma aprendiz prodigiosa em uma idade relativamente jovem, Wang Zhenyi nasceu na época da Dinastia Qing 大清 (de 1636 a 1912), em 1768.

Ela morreu tragicamente muito jovem, aos 29 anos, mas não antes de elaborar diversos materiais sobre artes, ciências e matemática. Sua riqueza intelectual foi compilada após sua morte, incluindo também trabalhos sobre astronomia, geografia e medicina. Curiosamente, suas descobertas resistiram ao teste do tempo, permanecendo relevantes mesmo quando avaliadas pelas lentes da ciência moderna. Seus feitos fizeram com que ela fosse homenageada em 2004, quando uma cratera na superfície de Vênus foi nomeada em sua homenagem pela União Astronômica Internacional.

Sua abordagem de pesquisa incluia amostras de textos chineses e ocidentais, além de muito autodidatismo. Ela ficou marcada por passar informações de uma maneira direta, e muitas vezes apresentando descobertas em um estilo poético.

Essa brilhante cientista também se engajou em artes marciais, arco e flecha, e ensino. Suas realizações incluem uma reversão dramática dos papéis tradicionais de gênero da China antiga.

6. Wu Mei 伍枚

Mulheres na China - Wu Mei
Nessa bela ilustração de Thomas Pinheiro, Wu Mei observa a luta entre uma garça e uma serpente, sua fonte de inspiração para a criação do Wing Chun. Nossos sinceros agradecimentos ao Shifu Thomas Pinheiro, da Academia Pinheiros de Wing Chun, pela autorização para usar essa ilustração.

Nascida em 1776, Wu Mei (ou Ng Mui) foi uma monja shaolin 少林 que sobreviveu às investidas da Dinastia Qing 大清 contra o Templo Shaolin 少林寺. Ela foi a primeira (e talvez única até hoje) mulher a criar uma arte marcial amplamente praticada. Na verdade, ela inventou várias delas, como o Dragão do Sul 龙形摩桥 e o Punho da Garça Branca 白鹤拳. No Ocidente, ela é mais conhecida como a criadora do Wing Chun 咏春拳 (também chamado de Yong Chun ou Ving Tsun).

A história do Wing Chun começou quando Wu Mei conheceu uma garota de quinze anos chamada Yan Yongchun 严咏春 (ou Yim Wing-Chun), a quem um bandido estava tentando forçar o casamento. Wu Mei ensinou Yan Yongchun a se defender, filtrando seus conhecimentos de artes marciais em um sistema que Yan Yongchun pudesse aprender rapidamente e usar sem precisar de força. Usando essa nova arte ensinada por Wu Mei, Yan Yongchun desafiou o bandido e foi capaz de vencê-lo sem dificuldades. Wu Mei decidiu homenagear sua aluna colocando seu nome na arte marcial recém-criada.

O Wing Chun continuou a ser ensinado e ganhou grande popularidade, especialmente em Hong Kong 香港, com a ascensão de Ye Wen 叶问, mais conhecido no Ocidente como Ip Man. Após o sucesso de praticantes como Bruce Lee 李小龙, Jackie Chan 成龙, e Donnie Yen 甄子丹, o Wing Chun se tornou um dos estilos de artes marciais mais praticados do mundo. É fácil perceber que Wu Mei é uma das mulheres na história da China que mais influenciam hoje a vida no Ocidente.

7. Cixi 慈禧

Mulheres na China - Cixi

A Imperatriz Viúva Cixi (ou Tseu-Hi / Tzu-hsi) chegou ao poder em 1861 e governou a Dinastia Qing 大清 (de 1636 a 1912) por 47 anos até sua morte. Foi regente por meio de uma sucessão de crianças imperadores, incluindo seu filho e, mais tarde, seu sobrinho.

Ela foi a última mulher a governar a China, e a penúltima pessoa a governar a China imperial, saindo do poder apenas 4 anos antes da Revolução de 1911 辛亥革命. Devido ao período em que governou, Cixi foi mais do que uma das mulheres na história da China que mudaram o curso da nação. Ela decidia os caminhos que o império deveria tomar, em um dos momentos mais críticos da história chinesa.

Sua capacidade de comando sobre subordinados do sexo masculino causou um impacto cultural nos europeus que mantinham contato com o império, e se tornou tema central de diversas correspondências entre os estrangeiros, incluindo livros.

8. Song Qingling 宋庆龄

Song Qingling

Song Qingling se tornou uma importante figura política após o estabelecimento da República Popular da China, em 1949. Ela foi a vice-presidente da China por duas vezes, de 1949 a 1954, e de 1959 a 1975, além de vice-presidente do Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo. Entre 1968 e 1972, foi a principal chefe de estado, quando assumiu a China de forma interina. Ela também foi a esposa do influente líder político Sun Zhongshan 孫中山 (ou Sun Yat-sen).

Apesar de Song Qingling ter perdido o carinho do povo por conta dos eventos da Revolução Cultural, ela também é lembrada por sua luta pela causa feminista. Ela acreditava que o casamento arranjado era uma prática que deveria ser abolida e que as mulheres eram livres para decidir com quem se casar. Ela também lutou contra a crença de que as mulheres deveriam seguir as três obediências: seus pais, seus maridos, e seus filhos (quando solteiras, obedecer ao pai; quando casadas, obedecer ao marido; quando viúvas, obedecer aos filhos homens).

9. Yang Kaihui 杨开慧

Yang Kaihui

Yang Kaihui foi a segunda integrante mulher na história do Partido Comunista da China 中国共产党. Foi também pioneira na luta pela causa feminista. Nascida em 1901, viveu em sua adolescência a queda da Dinastia Qing 大清 , durante a Revolução de 1911. Com a queda do império, seu pai, um grande estudioso da época, conseguiu dar a Yang Kaihui um melhor acesso à educação, inclusive com estudos no exterior. Isso inspirou Yang Kaihui em sua luta pelo direito à educação para as mulheres.

Ela também foi eposa de Mao Zedong 毛泽东 (ou Mao Tsé-Tung), o primeiro presidente da República Popular da China, e teve três filhos com ele. No mesmo ano em que tiveram seu terceiro filho, em 1927, Mao foi inspecionar o movimento de fazendeiros na província de Hunan 湖南 e depois disso o casal nunca mais se viu. Embora vivesse sozinha, a corajosa mulher manteve-se na vanguarda da luta pela libertação.

Em 1930, Yang voltou a seu pequeno vilarejo natal, onde sua mãe e filhos viviam. No entanto, foi encontrada e capturada pelo Kuomintang 中国国民党, partido que estava no poder na época, antes da Revolução Comunista. Apesar de ser torturada, ela se recusou a confessar qualquer crime, mas disse que “cortar a cabeça é como a passagem do vento – a morte pode assustar os covardes, mas não os nossos comunistas”. Várias celebridades se organizaram e pagaram sua fiança. Sob pressão, funcionários do Kuomintang especificaram que Yang Kaihui deveria romper relações com Mao Zedong. Yang Kaihui expressou firme oposição a isso.

Recusando-se a sair do Partido Comunista da China ou a cortar relações com Mao Zedong, Yang Kaihui foi executada em 14 de novembro de 1930 em Changsha 长沙, aos 29 anos de idade. Sua execução foi um dos divisores de água que culminaram na Revolução Comunista em 1949.

O Conexão China deseja um Feliz Dia Internacional da Mulher a todas as mulheres!

妇女能顶半边天

Fù nǚ néng dǐng bàn biān tiān

Literalmente: “As mulheres podem segurar metade do céu”
Provérbio chinês que significa que as mulheres conseguem conquistar as mesmas coisas que os homens.

Continue ligado aqui no Conexão China para saber mais sobre cultura chinesa. Acompanhe também o Conexão China nas redes sociais!